Nem sempre me sento no meu lugar. E sinceramente já perdi a conta das vezes que não o fiz. Mas as vezes que o cedi, essas lembro-me de todas. Foram três.
A primeira foi a uma senhora. Para agradecer leu-me a sina na palma da mão. Disse duas ou três coisas óbvias e outras tantas rebuscadas que nunca vou saber se foram certeiras. Esqueci-me. Esqueço sempre do que me querem impor.
A segunda vez foi a um cego. Agradeceu e pediu-me que descrevesse como estava o dia la fora. Perguntei-lhe se alguma vez tinha tido visão. Respondeu que sim. Disse-lhe, então, que estava igualmente bonito ao último dia que recorda e que nunca mais tinha havido melhor.
A terceira e última, foi a um senhor de bengala que abandonou o lugar antes da minha estação. Ao sair agradeceu e disse-me para nunca deixar de chamar "Meu lugar" ao lugar que escolho e que nunca devia cedê-lo, a quem nem sequer tenta encontrar o seu.