Era noite mas não o suficiente para o fazer esquecer o dia que passara. Tinha fome, e com esse refrão a zumbir, orientou o volante do automóvel na direcção certa, no caso rumo ao restaurante mais próximo.
Parou o automóvel, fez descer o vidro lateral e pasmou.
Ela também, mas ela tinha como disfarçar, estava a trabalhar dentro do restaurante. Entre paredes que ora se prostituiam, ora tinham vontade própria, estava imune a piropos ou flirts, melhor ainda, dominava-os.
Uma brisa entrava pelo carro e contornava a cara dele. Ela tinha voado para algo parecido com os bastidores, saiu e dirigiu-se pouco depois, novamente para a parte da frente, talvez de um palco. Sorriu-lhe, ajeitou uns papeis, que ele logo pensou serem pautas de música. E com um dedilhar feminino contudo firme, tocou uma melodia, e que bem soava aquele piano, mesmo da estrada, mesmo dentro de um carro fora do restaurante.
Acabou a música. Foi novamente aos bastidores para regressar desta vez com outro instrumento. Ele já não ouviu mais nenhuma música. “O seu troco!” – foi o que ouviu. Acordou. Deixou de estar pasmado e foi para casa.
Quem lhe dera ter em casa um piano, para em vez de um saco de papel no lugar do pendura, levar aquela deusa. Aquela mulher que lhe pareceu ser tudo, menos aquilo que os meus próprios olhos viram, sempre que ela se desligava dele, para atender o meu pedido.
Miguel Alves
Parou o automóvel, fez descer o vidro lateral e pasmou.
Ela também, mas ela tinha como disfarçar, estava a trabalhar dentro do restaurante. Entre paredes que ora se prostituiam, ora tinham vontade própria, estava imune a piropos ou flirts, melhor ainda, dominava-os.
Uma brisa entrava pelo carro e contornava a cara dele. Ela tinha voado para algo parecido com os bastidores, saiu e dirigiu-se pouco depois, novamente para a parte da frente, talvez de um palco. Sorriu-lhe, ajeitou uns papeis, que ele logo pensou serem pautas de música. E com um dedilhar feminino contudo firme, tocou uma melodia, e que bem soava aquele piano, mesmo da estrada, mesmo dentro de um carro fora do restaurante.
Acabou a música. Foi novamente aos bastidores para regressar desta vez com outro instrumento. Ele já não ouviu mais nenhuma música. “O seu troco!” – foi o que ouviu. Acordou. Deixou de estar pasmado e foi para casa.
Quem lhe dera ter em casa um piano, para em vez de um saco de papel no lugar do pendura, levar aquela deusa. Aquela mulher que lhe pareceu ser tudo, menos aquilo que os meus próprios olhos viram, sempre que ela se desligava dele, para atender o meu pedido.
Miguel Alves
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