Quis ir ao cinema. Mesmo que para isso lhe bastasse descer um degrau, quis fazer o que os outros fazem. Os outros que não precisam descer o degrau. Os que descem na horizontal falsa do elevador.
Então antes de se mexer para o cinema, encostou bem o cabelo ao crânio, tirou um cachecol do saco de plástico e deixou no mármore a cama pronta até ao regresso.
Desceu o degrau.
Sentou-se novamente e esperou o ínicio do filme. E o filme iniciou-se tantas vezes que lhes perdeu a conta. Havia prémios a serem atribuidos aos actores e actrizes logo após as primeiras cenas. Ninguém mudava o guarda roupa. Ninguém tinha decorado os textos.
E ele pensou que chegava de sonhar com a vida real. Voltou a subir o degrau e realizou o seu filme. E para isso muito contribuiram, as letras das folhas de jornal que o cobriam.
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