A marcha do comboio não enganava. Seguia em frente. Avançava.
Levava gente dentro. Alguém parecendo não estar satisfeito, caminhava. Seguia em frente. Avançava. E fazia-o para lá e para cá. Como se o limite de cada ponta do comboio fosse o inicio de mais uma caminhada.
Nas horas que durou a viagem não o vi cruzar olhares com ninguém. Fitava qualquer coisa dentro ou fora dele. E caminhava. Seguia em frente. Avançava.
Confesso que de ínicio me aborreceu. A mim e percebi que a todos os que se mantinham sentados. A seguir em frente. A avançar.
Desisti do desconforto assim que percebi a imunidade dele. Ele podia fazer aquilo. Talvez até devesse mesmo fazê-lo. Era miúdo e podia. Era miúdo e devia.
Devia seguir em frente. Devia avançar. Mesmo dentro do comboio e este a fazê-lo também.
Mesmo quando tinha de inverter a marcha parecendo voltar para trás, o comboio seguia em frente. Avançava. E ele também. Iludido, seguia em frente. Avançava.
2 comentários:
Mais do que este texto o que me chamou a atenção,enquanto deambulava por aqui,foi ver no teu perfil, como um dos filmes preferidos,o "Clube dos poetas mortos"!
Parabéns pela preferência*
Sempre que o comboio anda para trás eu mudo de assento, assim ando sempre para a frente;)
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