sexta-feira, março 29, 2013

MenteQueVives - Ambulâncias perdidas

As ambulâncias andavam perdidas na cidade. A cadência do azul circular era torpe e as moradas fugiam.
Os outros veículos, heróicos, não andavam. Como se assim com as suas faltas de vida, abrissem vagas para quem esperava as ambulâncias.
As vozes dos que chamavam ficavam nas casas. Milhares de linhas a contornar com silêncio as idades, formavam portas, janelas, esquinas. Uma dessas incontáveis janelas, abriu-se e mostrou vida. Tanta vida que que já não cabia dentro de casa. Não cabia em casa nenhuma, qualquer que fosse o seu tamanho, qualquer que fosse o isolamento. E a vida caía na rua como uma criança que nasce, com o mesmo som da pausa até ao recolhimento.
As ambulâncias continuavam perdidas na rua com o dever não cumprido, deixando no ar a esperança de alguém se lembrar, que não eram mais do que veículos com luzes no tejadilho. Tão pequenas perto de uma vida.