terça-feira, novembro 27, 2007

MenteQueSentes - Parábolas

Muitas são as parábolas
que quem não vê não ignora
tantas são as formas
que o mundo tem.

Miguel Alves

segunda-feira, novembro 26, 2007

MenteQueSentes - Procuro livro

Procuro livro com 2,4 cm de espessura, capa dura e sem letras em relevo. O objectivo é nivelar uma mesa de cabeceira e será uma situação temporária, tenciono comprar uma nova. Por isso não uso calços em madeira porque com o livro sempre posso dar-lhe outra utilização, como por exemplo lê-lo. Já agora prefiro evitar biografias por eventuais efeitos secundários na pessoa em questão, livros de viagens por eventuais problemas diplomáticos e livros religiosos porque pode pesar-me na consciência o dobro do que pesa a mesinha de cabeceira. Fico a aguardar sugestões, até lá vou continuar a pousar o copo de água no chão. Para quem tenha ficado curioso, a mesinha de cabeceira ficou manca por ter usado o bocado da perna para servir de suporte no meio de uns livros, numa estante que não é minha.

Miguel Alves

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terça-feira, novembro 20, 2007

MenteQueVives - Partilha da liberdade

Fechou o estaminé. Caminhou livre o tempo que pôde, as crianças em casa logo logo diriam quanto.
O cabelo fechava cada passo como a batida lógica de um coração. Sonhou não ser livre naquele momento. Olhou o chão pintado pelos seus próprios pés e imaginou ter as mãos ocupadas com as outras mãos que um dia encontrou dentro de si.
A luz do dia era cada vez menor mas o espaço ocupado pelo mapa era ainda mais rápido a desaparecer.
Mal perdeu a liberdade deu um tiro no pé e tratou de agravar a pena com alguns excessos que trazia no bolso. Não foi o suficiente nem para compensar o tempo que esteve livre nem para merecer a prisão daqueles braços. Mas na verdade, no momento em que naquele mesmo dia gastou o mapa, já a liberdade estava a ser oferecida a quem ainda achava estar apenas a partilhá-la.

Miguel Alves

sexta-feira, novembro 02, 2007

MenteQueVives - Canto do mundo

Luz que parecia música ou música que parecia luz? Nos corredores, nas bilheteiras, nos balcões, atrás da cortina, em cima do palco, atrás da máquina do algodão doce, de canto em canto recebiam-se a música e a luz sem que fosse possível imaginar uma sem a outra. A nobre distinção de as acolher, recomendava, pelo menos naquele teatro, que ambas se confundissem como a ansiedade e o desejo, o dinheiro e o alívio, os olhos e a imaginação, as mãos e a corda, as tábuas e as sabrinas, o açucar e o corante.
Para garantir a união havia corpos que bailavam como searas debaixo do luar, corpos que mantinham o peso morto da consciência longe daquele teatro e soltavam do palco, do canto do mundo, a leveza das suas massas como se fossem feixes de uma luz que não cabia dentro da orquestra.

Miguel Alves

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