sábado, abril 24, 2010

MenteQueSentes - Aprender a comer

Temos os risos de cinema
no momento certo, os prolongados
e o corredor
onde distinguimos vidas
pelo tamanho da roupa.
Só no momento em que acertármos
na quantidade da nossa comida
poderemos receber visitas
por o nosso filme na sala
e ouvir risos
sem nos lembrarmos da roupa.

segunda-feira, abril 12, 2010

MenteQueVives - Terra natal

Enquanto fazia deslizar a pedra branca de forma a comer uma pedra preta, na jogada seguinte.
Enquanto marcava um sorriso no rosto, sem esforço.
Enquanto olhava o neto como quem sopra uma semente da palma da mão.
Sabia que tinha chegado à terra natal que descobriu esquina a esquina, cheiro a cheiro, reflexo a reflexo.
Chegara à terra natal de onde nunca quis verdadeiramente sair. Que quando o fez pediu perdão, como quem traiu a única pessoa capaz de prender o príncipio de tudo, com tudo aquilo que quisermos descobrir.

sábado, abril 03, 2010

MenteQueVives - Atracção dos corpos

Deu quatro passos apressados desde a porta de casa até ao limite do passeio. Fê-lo com a mão sobre a testa, como uma pala. Percebia-se a aflição em não deixar o passado tapar-lhe a visão.
Olhou a curva da estrada tantas vezes que parecia fazê-lo de forma contínua. Queria tanto ver o seu alguém aparecer que eram as horas que tinham de passar-lhe em frente ao rosto, e não este ir em busca dessa marca. Assim ficou, à espera.
Para mim a curva fez-se recta. As suas horas em mim ficaram feitas em segundos. Por cada um que passava era mais um reforço na traição que o meu carro, bocado inerte de mim, dava naquele desejo de ser a lei da física que punha por escrito a atracção dos corpos.