terça-feira, janeiro 30, 2007

MenteQueSentes - Verbo

Deixa que a minha mão
te desenhe um mundo
e se algum dos meus dedos
não te chamar
mostra-lhe como fazes um verbo
num momento
em que muitos
usariam um carimbo.

Miguel Alves

quinta-feira, janeiro 25, 2007

MenteQueVives - Escola

Para ele a casa era grande como a noite mas não tão assustadora. Deixava-o sem a mão do seu farol mas não o fazia tremer como quando debaixo dos lençóis, se escondia do escuro destapado.
A escola nunca o fez voltar para trás mas também não o puxava como a terra áspera da rua onde morava. Nele ainda não era nada, aquela voz que todos os dias dava copos de água a crianças com sede de mar, aquele sino, ora sorridente, ora casmurro, aquele leite achocolatado que não tinha prioridade no campo de futebol improvisado ou até mesmo o colega do lado sempre pronto a emprestar a borracha, sem que isso apagasse depois a marca de uma pedra submissa.
Ainda não era nada a escola naquele corpo de tamanho horário, com sonhos tão espessos que anos depois ainda lhe irão fazer dar passos, mesmo quando o tamanho dessa erosão, se revelar pelo branco que carrega.

Miguel Alves

quinta-feira, janeiro 18, 2007

MenteQueProcuras - Ouvir ou Falar?

- O que apareceu primeiro? O acto de ouvir ou o de falar? É que em algumas coisas a antiguidade devia prevalecer, não?

segunda-feira, janeiro 15, 2007

MenteQueVives - Sombra

Passava o tempo amarrada ao chão, com o cabelo solto e perfumado.
A sua sombra a proteger beijos, era a sua alma, aquilo que usamos sem ver as marcas que deixamos. E era a sombra que o seu corpo mais invejava. O corpo invejava a sua própria sombra. Não era ela que suportava canivetes a anunciar juras de amor eterno, pés ambiciosos por chegar ao fruto mais apetecido, pedras arremessadas sem sentido como parentes de lágrimas imaturas. Não era a sombra que suportava tudo isto. Mas era por tudo isto que se estendia na relva rasa e muitas vezes seca. Era por tudo isto que se entregava à luz, renunciava à vida que esta trazia e se mantinha estendida como um tapete, à espera de estrelas para a percorrerem de dia e com a noite subirem pelo seu corpo.

Miguel Alves

terça-feira, janeiro 09, 2007

MenteQueSentes - O sonho de Mariana

Sentimento guardado
na casa de um chão
um piso qualquer
coberto por uma multidão
escondido ou quase
deixava a Mariana sonhar
era crespúsculo invertido
ou vontade de amar.
Envergonhado e só
irritava Mariana
sem um único inimigo
esperava uma companhia.
E quando a multidão dormiu
abriu-se uma janela
Mariana acenou
e o sentimento dobrou.

Miguel Alves

terça-feira, janeiro 02, 2007

MenteQueSentes - Escultura de areia

A bravura estava lá
grão a grão
desenhada na areia.
As lâminas musculares
cortavam aquele monte artificial
e faziam o olhar de quem passava
sussurrar ao vento
a energia confidencial
de quem se inverte nas horas normais.

Miguel Alves