segunda-feira, janeiro 15, 2007

MenteQueVives - Sombra

Passava o tempo amarrada ao chão, com o cabelo solto e perfumado.
A sua sombra a proteger beijos, era a sua alma, aquilo que usamos sem ver as marcas que deixamos. E era a sombra que o seu corpo mais invejava. O corpo invejava a sua própria sombra. Não era ela que suportava canivetes a anunciar juras de amor eterno, pés ambiciosos por chegar ao fruto mais apetecido, pedras arremessadas sem sentido como parentes de lágrimas imaturas. Não era a sombra que suportava tudo isto. Mas era por tudo isto que se estendia na relva rasa e muitas vezes seca. Era por tudo isto que se entregava à luz, renunciava à vida que esta trazia e se mantinha estendida como um tapete, à espera de estrelas para a percorrerem de dia e com a noite subirem pelo seu corpo.

Miguel Alves

1 comentário:

Anónimo disse...

Uau! Agora convenceste-me: és o engenheiro poeta :)
"O corpo invejava a sua própria sombra. Não era ela que suportava canivetes a anunciar juras de amor eterno" Brilhante, estupendo - a sério! Beijinhos de sombra